Poesias
SILÊNCIO
Artur Oliveira Mendes - UFMG
CONCURSO ALEXANDRE MENDES DE MÚSICA E
POESIA
ECEM 99/Floripa
Poesia Finalista
O silêncio é o nada
Que invade o dia cheio
O silêncio é a faca
Que corta a frase no meio
O silêncio é a palavra
Que está perdida no tempo
O silêncio é a carta
Em branco de cada momento
O silêncio é esse muro
Entre as pessoas da sala
O silêncio é esse escuro
Da falta de luz da fala
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AO NATURAL
Maria Tereza de Moraes e Souza - Unesp
CONCURSO ALEXANDRE MENDES DE MÚSICA E
POESIA
ECEM 99/Floripa
POESIA FINALISTA
Verso em conserva não me agrada.
Quero meu poema natural e puro
Cheirando a tinta fresca e lágrima,
Com todas as curvas e palavras turvas.
Não quero meu verso enlatado e rotulado:
"Contém 200g de emoção"
Quero-o daqueles que se vendem à granel
E cada um tenha o gosto que quiser.
Livre de quaisquer conservantes,
Com as arestas despojadas, doce, amargo,
Azedo, salgado, frio, quente, simples:
Não o faisão, mas o feijão.
Sem vidros, sem rolhas, destampado.
Liberto a emanar seu perfume
De flor, fruta, capim, chuva, rua,
Tardes alaranjadas, amor, talvez tristeza.
Só quero meu verso meu, sem limites.
Nascido e colhido, germinando.
Não ferro limado: laranja lima
Não jóia: fruto.
E quando maduro, provado e pronto
Quando chegar às mesas e às bocas,
Quero apenas que sintam o seu sabor.
Ah, sonho fértil... do meu verso
agricultor...
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O GUARDIÃO DO ANATÔMICO
Cristiano N. Albuquerque (Cubano) - UFMG
CONCURSO ALEXANDRE MENDES DE MÚSICA E
POESIA
ECEM 99/ Floripa
1O LUGAR - CATEGORIA POESIA
Eram ao todo oito cadáveres.
E nós, como urubus, nos alimentávamos de
ciência,
uma ciência que cheira a formol e látex de
luvas cirúrgicas.
Éramos cento e sessenta assassinos
de uma matéria já morta e altamente entrópica.
E o branco de nosso paletó parecia
purificar
os gestos que fazíamos com nossos bisturis
e tesouras.
E a virgindade da maioria de nossos colegas
se satisfazia com a descoberta de algumas peças
anatômicas.
E trancados em um galpão no meio da tarde,
trancado em uma floresta de inútil
conhecimento,
trancada em um bairro distante do mundo
real,
trancado em uma cidade que não se sabe
o que se passa nesse universo de cidade,
olhávamos ossos que um dia já apanharam da
polícia,
olhávamos pulmões que já respiraram as
fumaças dos viadutos e túneis,
olhávamos estômagos que se alimentavam do
lixo de nossos fartos almoços,
olhávamos genitálias penetradas como vasos
sanitários dos banheiros públicos da
rodoviária
e também olhávamos as coxas e os seios
macios de nossas colegas;
as virgens e as não;
e a coisa mais viva ali eram os nossos
olhares,
atônitos, excitados, iludidos, ambiciosos,
seduzidos
pelo poder de, com aquele conhecimento que
ora se iniciava,
desafiar a morte, viajar pela Europa,
aliviar um sofrimento,
comprar uma Ferrari, corrigir injustiças,
morar num apartamento na praia,
mudar o mundo e fazer amor com nossas
colegas;
as virgens e as não.
E todos os semestres essas cenas se repetem:
toda podre inocência dentro daquele galpão,
todas as hipócritas convenções da ciência
naquele galpão,
e mais uma criança morrendo de frio ou de
fome lá fora,
para mostrar que na verdade não passamos
de cento e sessenta e oito cadáveres que
cheiram a formol
e têm título de estudantes porque carregam
livros grossos embaixo do braço
e juram querer ajudar as pessoas;
as virgens e as não!
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ONDE SE VOA
Bruno Ramalho, UFU
ACERVO ASSESSORIA DE CULTURA 99.
Minha poesia
faz as curvas do olhar,
rumando para o nada,
para o sem fim do não tocar.
Trechos de velocidade,
onde se pode voar,
onde se perde o caminho
para o desejo de parar.
Minha poesia
faz os versos do olhar,
caminho e estrofe se confundem,
na esperança do apaixonar.
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A GENTE SE CALA
Thiago F. Nascimento - UFS
ACERVO ASSESSORIA DE CULTURA 99.
A gente se cala para ouvir,
Músicas, frases.
Coisas memoráveis.
A gente se cala para sentir,
Prazer, dor.
Coisas de amor.
A gente se cala para jogar,
Perde, pondo a mão no fogo.
Coisas do jogo.
A gente se cala para dormir,
Sentir, sonhar.
Coisas de ninar.
A gente se cala para viver,
Deslizes, reerguidas.
Coisas da vida |